sexta-feira, 17 de setembro de 2010

E nós ô nem ai pro mundo!

Primeiro levaram os negros PDF Imprimir E-mail
por José Milbs
Sex, 21 de Setembro de 2007 00:00


Bertolt Brecht. (10 de Fevereiro de 1898 – 14 de Agosto de 1956)

(Bertolt Brecht)
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

Será que são ridículas Mesmo!

Álvaro de Campos
Todas as Cartas de Amor são Ridículas
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Educação Biocêntrica

EDUCAÇÃO BIOCÊNTRICA
UM PORTAL DE ACESSO À INTELIGÊNCIA AFETIVA

Ruth Cavalcante


O pensamento pedagógico e social no Brasil e no mundo de hoje sugere que a grande demanda na formação dos educadores é de natureza didática, ou seja, é preciso aprender, cada vez mais, como ensinar. Na minha estreita convivência com os colegas educadores, como técnica da Secretaria de Educação do Município Fortaleza, professora de escola pública e privada e consultora de diversas instituições educacionais, discordo desse ponto de vista, pois considero que a maior necessidade na área da formação de docentes é criar um espaço que permita a expressão da identidade dos educadores e desperte uma nova visão de si mesmo e do mundo numa interdependência entre o pensamento e o mundo.

Isso me foi sendo revelado na minha vivência de educa-dora e em algumas dezenas de encontros sobre formação de educadores realizados através do Departamento de Cursos e Consultorias do Centro de Desenvolvimento Humano – CDH, de cuja direção tenho a alegria de participar desde 1981. Foi nessa Instituição, que este ano celebra suas Bodas de Prata, que se formaram centenas de profissionais das áreas de Educação, Saúde e Ciências Humanas em geral, dentro da visão de inteireza do ser humano que pretendemos refletir neste artigo. Tivemos oportunidade de transformar o CDH no maior centro de construção desse novo saber e pudemos acompanhar principalmente os educadores, demonstrando de diversas formas que o objetivo da sua ação pedagógica não se restringe apenas a desenvolver a capacidade do educando de aproveitar as fontes de conhecimento, mas também a considerar a necessidade de interação educador/edu-cando com os o que o cercam e com o meio, sentindo prazer em estar e conviver com os outros.

Penso que um dos caminhos para se efetivar mais rapidamente uma mudança paradigmática na educação contempo-rânea é o cuidado com a formação dos educadores. Não é neces-sária uma análise muito aprofundada da formação tradicional dos educadores para observarmos que, de fato, dentro desse modelo convencional o destaque é preferencialmente para o aspecto cognitivo. Há uma grande dificuldade para sair do modelo de construção do conhecimento fundamentado muitas vezes em teorias de ensino-aprendizagem que já não atendem às neces-sidades de uma realidade em permanente transformação.
Assim constatamos que a educação centrou-se, ultima-mente, no acúmulo de conhecimento e preparação intelectual e tecnológica tanto dos educandos quanto dos educadores, esque-cendo outras dimensões de necessidades do ser humano. Segundo Cândida Morais:

Se estamos preocupados em formar indivíduos criativos, cooperativos, solidários e fraternos, mais integrados e harmo-niosos, capazes de explorar o universo de suas construções intelec-tuais, teremos de optar por um tipo de paradigma educacional diferente dos modelos convencionais atuais e que, por sua vez, foram influenciados por determinadas correntes psicológicas e filosóficas ancoradas num determinado paradigma adotado pela ciência. Se quisermos formar indivíduos intelectuais e humana-mente competentes e bem formados, capazes de aceitar desafios, construir e reconstruir teorias, discutir hipóteses, confrontadas com o real, formar seres em condições de influenciar na construção de uma ciência no futuro ou participar dela, então, necessariamente, o paradigma educacional precisa ser revisto. (1996:20)

O que urge nos tempos de hoje é convidar os educadores a uma reflexão no caminho de conhecerem-se a si mesmos, permi-tindo-lhes assim encontrar-se com o seu saber e a sua sabedoria. O conhecimento do conhecimento os levará a uma atitude de cons-tante vigilância para não se apegar às suas certezas e verdades, mas permanecer abertos à percepção de um mundo que produzimos juntos, nós e os outros, um mundo que se move em direção à auto-regulação, à felicidade e à vida plena.