EDUCAÇÃO BIOCÊNTRICA
UM PORTAL DE ACESSO À INTELIGÊNCIA AFETIVA
Ruth Cavalcante O pensamento pedagógico e social no Brasil e no mundo de hoje sugere que a grande demanda na formação dos educadores é de natureza didática, ou seja, é preciso aprender, cada vez mais, como ensinar. Na minha estreita convivência com os colegas educadores, como técnica da Secretaria de Educação do Município Fortaleza, professora de escola pública e privada e consultora de diversas instituições educacionais, discordo desse ponto de vista, pois considero que a maior necessidade na área da formação de docentes é criar um espaço que permita a expressão da identidade dos educadores e desperte uma nova visão de si mesmo e do mundo numa interdependência entre o pensamento e o mundo. Isso me foi sendo revelado na minha vivência de educa-dora e em algumas dezenas de encontros sobre formação de educadores realizados através do Departamento de Cursos e Consultorias do Centro de Desenvolvimento Humano – CDH, de cuja direção tenho a alegria de participar desde 1981. Foi nessa Instituição, que este ano celebra suas Bodas de Prata, que se formaram centenas de profissionais das áreas de Educação, Saúde e Ciências Humanas em geral, dentro da visão de inteireza do ser humano que pretendemos refletir neste artigo. Tivemos oportunidade de transformar o CDH no maior centro de construção desse novo saber e pudemos acompanhar principalmente os educadores, demonstrando de diversas formas que o objetivo da sua ação pedagógica não se restringe apenas a desenvolver a capacidade do educando de aproveitar as fontes de conhecimento, mas também a considerar a necessidade de interação educador/edu-cando com os o que o cercam e com o meio, sentindo prazer em estar e conviver com os outros. Penso que um dos caminhos para se efetivar mais rapidamente uma mudança paradigmática na educação contempo-rânea é o cuidado com a formação dos educadores. Não é neces-sária uma análise muito aprofundada da formação tradicional dos educadores para observarmos que, de fato, dentro desse modelo convencional o destaque é preferencialmente para o aspecto cognitivo. Há uma grande dificuldade para sair do modelo de construção do conhecimento fundamentado muitas vezes em teorias de ensino-aprendizagem que já não atendem às neces-sidades de uma realidade em permanente transformação. Assim constatamos que a educação centrou-se, ultima-mente, no acúmulo de conhecimento e preparação intelectual e tecnológica tanto dos educandos quanto dos educadores, esque-cendo outras dimensões de necessidades do ser humano. Segundo Cândida Morais: Se estamos preocupados em formar indivíduos criativos, cooperativos, solidários e fraternos, mais integrados e harmo-niosos, capazes de explorar o universo de suas construções intelec-tuais, teremos de optar por um tipo de paradigma educacional diferente dos modelos convencionais atuais e que, por sua vez, foram influenciados por determinadas correntes psicológicas e filosóficas ancoradas num determinado paradigma adotado pela ciência. Se quisermos formar indivíduos intelectuais e humana-mente competentes e bem formados, capazes de aceitar desafios, construir e reconstruir teorias, discutir hipóteses, confrontadas com o real, formar seres em condições de influenciar na construção de uma ciência no futuro ou participar dela, então, necessariamente, o paradigma educacional precisa ser revisto. (1996:20) O que urge nos tempos de hoje é convidar os educadores a uma reflexão no caminho de conhecerem-se a si mesmos, permi-tindo-lhes assim encontrar-se com o seu saber e a sua sabedoria. O conhecimento do conhecimento os levará a uma atitude de cons-tante vigilância para não se apegar às suas certezas e verdades, mas permanecer abertos à percepção de um mundo que produzimos juntos, nós e os outros, um mundo que se move em direção à auto-regulação, à felicidade e à vida plena.